Poluição luminosa e a revisão da norma ABNT NBR 5101 – Iluminação pública*

Poluição luminosa e a revisão da norma ABNT NBR 5101 – Iluminação pública*

Dando sequência nesta série de artigos sobre iluminação, iremos tratar, nesta edição, sobre o tema sobre a poluição luminosa e o que deve ser modificado na revisão da ABNT NBR 5101. Atualmente, na NBR 5101 já temos uma parte que trata da poluição luminosa no item 6.2.9 incluindo poucos parágrafos e dando uma visão muito básica sobre o tema, mas já alertando para pontos como desperdício de energia por equipamentos e projetos mal elaborados, superdimensionamento dos sistemas de iluminação, etc. 

O tema é de extrema relevância para a sociedade, pois os efeitos nocivos da poluição luminosa estão cada vez mais presentes na vida selvagem e nos ecossistemas, afetando a todos os seres vivos. Toda a vida na Terra está baseada no ciclo entre claro/escuro, causado pela rotação da terra, ciclo chamado de ciclo circadiano que influencia toda a vida no planeta.  O ciclo circadiano está codificado no DNA de todas as plantas e animais. Nós, humanos, interrompemos radicalmente esse ciclo iluminando a noite. Toda a sustentação da vida – como reprodução, alimentação, produção hormonal e o sono – depende deste ciclo.  Evidências científicas sugerem que a luz artificial à noite tem efeitos negativos e mortais em muitas criaturas, incluindo anfíbios, pássaros, mamíferos, insetos e plantas. 

A iluminação artificial perturba ecossistemas em toda parte do mundo, prejudicando o  sono das espécies durante a fase escura e prejudicando animais noturnos que dormem durante o dia e são ativos à noite. A poluição luminosa altera radicalmente seu ambiente noturno, transformando a noite em dia. Sapos e rãs, por exemplo, cujo coaxar durante a noite, no escuro faz parte do ritual de acasalamento e reprodução, é interrompido com as instalações de luz artificial, diminuindo suas populações em áreas iluminadas. O mesmo acontece com a iluminação de zonas marítimas, pois as tartarugas marinhas vivem no oceano, mas desovam durante a noite na praia. As tartarugas buscam zonas menos habitadas e, na presença de luz artificial, não se aproximam e acabam por colocar seus ovos em zonas degradadas, nem sempre ideais para a nidificação. Já os filhotes encontram o mar detectando o horizonte brilhante e o reflexo da lua e estrelas sobre o oceano e a luz artificial pode afastar os recém-nascidos do oceano. 

A luz artificial afeta também o movimento migratório dos pássaros, podendo fazer com que eles se desviem do curso normal indo em direção às cidades, onde podem morrer colidindo com edifícios iluminados desnecessariamente. A luz artificial pode fazer com que eles migrem muito cedo ou muito tarde perdendo as condições climáticas ideais para sua reprodução. Muitos insetos são atraídos pela luz, mas a iluminação artificial pode criar uma atração fatal para algumas espécies, como o vagalume, por exemplo, que está extinto nas zonas urbanas. O declínio das populações de insetos afeta negativamente todas as espécies que dependem dos insetos para alimentação ou polinização. Alguns predadores exploram essa atração a seu favor, afetando as teias alimentares de maneiras inesperadas. Nos ecossistemas naturais tudo está conectado. Precisamos entender os impactos negativos da luz artificial e buscar soluções para minimizar possíveis danos. Quanto menos interferirmos na diversidade de vida no planeta, melhor é para a nossa sobrevivência.

Na atual revisão que se encontra em fase de Consulta Nacional e revisões para publicação, a poluição luminosa começa a ser tratada em mais detalhes no item 7.1 com diversas considerações sobre seus efeitos e como evitar ou minimizá-los. Também são tratados dos efeitos em sítios astronômicos, o halo luminoso celeste, a luz intrusa e os efeitos das altas temperaturas de cor que não devem ser utilizadas em iluminação pública. Com estas evoluções e novos requisitos técnicos, esperamos projetos de melhor qualidade a partir da publicação da revisão da ABNT NBR 5101.

Autor:

Por Luciano Haas Rosito, engenheiro eletricista, diretor comercial da Tecnowatt e coordenador da Comissão de Estudos CE: 03:034:03 – Luminárias e acessórios da ABNT/ Cobei. É professor das disciplinas de Iluminação de exteriores e Projeto de iluminação de exteriores do IPOG, e palestrante em seminários e eventos na área de iluminação e eficiência energética.

*Artigo escrito em parceria com Silvia Maria Carneiro de Campos, arquiteta e lighting designer.

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Fonte: www.osetoreletrico.com.br